Uma das versões para a fundação da Umbanda trata da suposta fundação da Umbanda pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, manifestado no médium Zélio Fernandino de Morais em condições peculiares, no ano de 1908 no estado do Rio de Janeiro.
Sem desmerecer o evento, que tem alto valor significativo, mesmo para aqueles que não concordam com a versão, e que de certo serviu ao propósito de divulgar a Umbanda ao público geral, existe outra versão mais coerente em relação à formação cultural-religiosa brasileira, e passível de verificação histórica.
Esta versão trata da evolução cultural e histórica das primeiras “Macumbas” do Brasil, oriundas de diversos pontos do norte/nordeste brasileiro, em especial do estado do Maranhão.
Em 1763 foram registrados os primeiros cultos, que começaram a se difundir com a designação de Macumba. Experimentaram certo período de resplendor que se apagou no inicio do século XIX.
A adesão de novos brasileiros fortaleceu a absorção de elementos nacionais, desenvolvendo-se, assim, práticas espiritistas e ocultistas ao lado de novas divindades caboclas e negras. O processo sincrético que deu origem a Umbanda desenvolveu-se em etapas históricas:
· Primeira: Africana ou básica: resultado da sedimentação de contribuições africanas, formando os cultos básicos das nações (Candomblé) e os cultos a Egungun. Forte presença da cultura e do pensamento africano, com muitos dogmas, rituais intricados e secretos, culto intimamente ligado a Orixá (Vodun, I’nkisse).
· Segunda: Indígena: os negros que se embrenhavam nas matas, principalmente os de origem banta entram em contatos com o índio brasileiro e seus costumes, identificam-se com o que havia de semelhante nos cultos dos indígenas. Como a religiosidade do africano está intimamente ligada à terra (à paisagem em si) acaba agregando algumas práticas, também ligadas à terra, ao seu culto (afinal, agora o negro estava pisando em outro chão).
· Terceira: Européia e Católica: os negros e índios, incapazes de assimilar a religião católica que lhes era imposta pelos padres, fizeram-no imperfeita ou parcialmente no que havia de correspondência com suas divindades tradicionais, surgindo assim o sincretismo que impera até hoje. Também a influência semita é de grande importância, pois é a partir deste ponto que se cria uma “escrita” (simbologia) própria do culto novo a partir da Kaballah.
· Quarta: Espiritista: após a libertação dos escravos vemos a integração do seu culto ao culto espiritista que se difundia entre as elites brasileiras desde 1873. Dai começa então a se formar um novo culto, que começa a se distanciar dos rígidos dogmas do culto original africano, distanciando-se dos candomblés da Bahia, até que por fim, rompe com o culto aos Orixás, focando-se no culto a Egun.
A nova religião que se derivou de todo este processo obteve várias denominações, entre elas a de Umbanda.
Em Angola, dava-se o nome de M’banda ao sacerdote, ao curandeiro, nome usado ainda nos tempos de hoje em Angola e em Portugal para designar os benzedeiros (M’banda é literalmente “aquele que ajuda”).
Desta forma, em princípio, Umbanda queria dizer “sacerdote”; depois, por extensão, passou a designar "local de culto", e, finalmente, para nós, brasileiros, a religião.
Já em 1894, através da palavra de Hely Chanterlain encontramos o registro do termo com o seu significado e derivação.
A princípio os primeiros cultos se localizavam principalmente no Maranhão, e depois em alguns pontos do Sudeste e Sul do Brasil, destacando-se nos estados de Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
Existe uma diferença básica entre a Umbanda e as antigas Macumbas, e ambas sobrevivem lado a lado.
As confrarias, chamadas a principio de macumbas, compreendiam a linguagem mágica dos tambores e a possessão da divindade de acordo com o modelo original, as sucessoras, ou aquelas que se adaptaram as novas exigências policiais, passaram a chamar-se Umbanda, suprimindo os tambores e moderando a possessão.
Eram características dessa Umbanda recém nascida:
· O ritual, simples e direto: o médium adota a roupagem numa igualdade de condições com o ambiente;
· Comunicação simples e direta: o crente fala diretamente com a entidade, através de seu médium; sem maiores problemas e com muita simplicidade, o crente trata dos seus assuntos de forma espontânea e clara, numa linguagem de fácil compreensão;
· O imediatismo: a possibilidade de resolver seus problemas em curto prazo;
· O sincretismo religioso: o que contribui positivamente para que seja cada vez maior o número de adeptos aos cultos umbandistas. Através dos caboclos, pretos-velhos e exus, observa-se uma integração das religiões, cujos resultados poderão ser benéficos para os que buscam a Umbanda como um acordo extensivo da religião católica, que ainda respeitam e acreditam, mas que dela se distanciam cada vez mais;
· A música, extremamente simples e de poesia singela, atinge diretamente o sentimento do povo. Os instrumentos são de percussão e o ritmo vibrante marca todo o culto;
· A facilidade de se entrar em contato com a religião, para se fazer à cerimônia religiosa.