Existe atualmente no Brasil um conjunto de religiões aqui nascidas e desenvolvidas, criadas a partir de 1550 pela combinação das crenças e dos costumes dos vários povos ameríndios, africanos e europeus que participaram da formação da cultura brasileira.
Entre os ameríndios, o grupo mais importante foi o Tupi, que antes da chegada dos europeus se espalhava desde o sul da Amazônia até o Rio da Prata. Sua cultura era neolítica, baseada na agricultura de subsistência, na caça e na pesca; os povos se organizavam em aldeias constituídas por famílias extensas (várias gerações reunidas numa grande casa), sem uma divisão hierárquica marcada. A grande divisão social era determinada pela diferença entre o trabalho dos homens (as tarefas pesadas, mas temporárias ligadas à caça e à pesca e ao preparo de terrenos para cultivo) e das mulheres (a carga imensa de todas as tarefas cotidianas do cuidado da casa, da agricultura e do artesanato).
Devido ao nível dos recursos tecnológicos de que dispunham, eram muito dependentes das condições climáticas e das variações na ocorrência natural de produtos animais e vegetais que coletavam; por isso, eram muito cuidadosos ao explorar a natureza. Refletindo esses traços culturais, a religião dos povos Tupis apresentava dois traços principais. Em sua relação com a natureza selvagem, consideravam que todos os seres, objetos e fenômenos naturais tinham “mães”, gênios criadores femininos que poderiam ser personalizados num animal ou num astro; e outros espíritos da natureza agiam como guardiões, ajudando as pessoas a suprirem suas necessidades e punindo os que matavam sem razão. Já a ordem social humana era regida por divindades criadoras e heróis civilizadores masculinos, expressões da ascensão do poder patriarcal.
Ritos de iniciação, práticas de magia e cura xamânica, festivais estacionais agrícolas, ritos fúnebres baseados na crença numa vida do espírito em outro mundo, busca da proteção dos bons espíritos e afastamento dos espíritos maus são os traços básicos dessa religião.
Sendo os habitantes do litoral brasileiro, foram os Tupis que tiveram maior contato com os europeus nos primeiros séculos da exploração da região, deixando marcas profundas de sua cultura. O Tupi foi a “língua geral” falada em muitas regiões do país nos primeiros séculos da colonização, sendo substituído muito lentamente pelo português, que absorveu muitos termos da língua indígena. Ao mesmo tempo, as crenças populares nos espíritos protetores, vários ritos e costumes tradicionais se misturaram com as crenças européias. Atualmente, a Amazônia é a região que conserva traços mais fortes da cultura ameríndia, embora existam vestígios dela em todas as regiões do país, mais ou menos misturadas às outras religiões.
Entre os povos africanos trazidos para o Brasil como escravos entre os séculos XVI e XIX, os mais importantes para a formação da cultura nacional foram os Yorubás, os Nagôs e os Bantus, oriundos, respectivamente, das bacias dos Rios Niger (atual Nigéria) e do atual Congo e Angola. Esses povos possuíam uma estrutura social e econômica muito complexa e avançada. Organizados em Reinos que ocupavam vastas áreas divididas em províncias, distritos e aldeias, tinham uma estrutura sofisticada de comunicações, manufatura (inclusive metalurgia), comércio (inclusive com povos de regiões distantes), finanças, governo e força militar. Um traço característico desses povos era a organização de tendência matriarcal das aldeias, que se refletia em sua religião. Muito organizada, rica e complexa, a religião desses povos contava com dois tipos de hierarquia sacerdotal: as mulheres eram responsáveis pelo contato direto com as divindades, através do êxtase ritual e dos cuidados do templo; os homens cuidavam da adivinhação e da cura.
Os ritos fúnebres do culto dos ancestrais eram separados dos do culto das divindades, que são forças da natureza ou heróis divinizados. Entre os Yorubás, era dada grande importância ao culto dos Orixás; uma característica dessa religião é a jovialidade das divindades, que geralmente se mantinham bem distantes dos mortos.
Já os Voduns do Daomé, alguns dos quais chegaram ao Brasil trazidos diretamente pelos Jêjes ou através da religião Yorubá, eram divindades austeras e temíveis, muito ligados a terra e à morte.
Os Inkices, divindades dos Bantus foram assimilados pelos Orixás que a eles se pareciam. Trazidos para o Brasil desde o início da colonização os Bantus espalharam por um vasto território, tendo grande contato com os portugueses e índios, sua religião foi pouco a pouco se misturando ao xamanismo indígena e às crenças religiosas e mágicas européias. Por isso, enquanto a religião Yorubá foi renascendo e se reorganizando na Bahia, onde esse povo ficou mais concentrado, a religião Bantu foi amalgamada com inúmeros outros elementos, desde os rituais Caboclos até o espiritismo abraçado pelas classes médias urbanas no final do século XIX, resultando numa religião totalmente nova. Nas regiões Norte e Nordeste, as crenças africanas foram fortemente influenciadas pelas tradições ameríndias e européias, originando várias tradições religiosas e mágicas típicas dessa área do país.
Entre os povos europeus, o mais importante para a formação religiosa brasileira foi o português. Este povo trouxe a tradição cristã, mas, ao contrário do francês, inglês e holandês, mais simpático a uma religião protestante fundamentalista (rigidamente presa aos textos originais do Cristianismo), a religião dos povos Ibéricos e Itálicos (Portugal, Espanha e Itália) evoluiu durante a Idade Média para um Catolicismo popular que deixou traços fortes nas religiões brasileiras.
Em sua forma original, o Cristianismo era uma religião messiânica e patriarcal, com todas as suas crenças e ritos concentrados na figura de um Deus masculino único, manifestado na terra como um filho salvador da humanidade. Entretanto, ao se expandir para regiões habitadas por populações milenarmente enraizadas e ligadas ao culto da Mãe-Terra e das forças da natureza, o Cristianismo foi-se enriquecendo pela incorporação dessas crenças. Dessa forma, o culto da Virgem Maria, que é a forma cristã da Grande Mãe do Mundo, cresceu a ponto de, em algumas regiões, se tornar mais importante do que o próprio culto de Cristo; e as grandes figuras da religião – os mártires dos tempos de perseguição – foram canonizados, transformados em Santos, assumindo um caráter muito semelhante a das antigas divindades locais e espíritos protetores.
Ao absorverem os elementos da religião européia imposta pelos colonizadores, os negros e Caboclos do Brasil aproveitaram essa face mais benévola, flexível e abrangente, aproveitando as figuras de Cristo, da Virgem e dos Santos para compor uma religião popular complexa e rica. Mais recentemente, através do espiritismo, foram incorporados elementos da Kaballah, da magia européia e da Alquimia.