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quarta-feira, 2 de março de 2011

Defazendo alguns mitos... (parte1)

A Umbanda é uma religião onde a simplicidade impera (ou pelo menos deveria). Muitos teorizam uma umbanda intrincada e complexa num nível que a afastaria da maioria do frequentadores, simples e humildes. As mensagens das entidades são (deveriam ser) diretas e dificilmente recheadas com metáforas e coisas do tipo. A intenção é que a mensagem seja clara para qualquer receptor. Demonstrando a ligação da Umbanda com os mais humildes.
Alguns praticantes, que passaram a se intitular mestres, e coisas semelhantes, passaram a defenir a umbanda de uma maneira a “embranquecê-la” e “elitizá-la” ao meu ver. Para mim não há outra certeza senão, a máxima de que, quem se julga detentor da verdade é quem está mais longe dela.
Minha intenção, é usar da minha experiência, que é apenas mais uma, diferente de todas as outras em diferentes graus, para tentar elucidar alguns mitos que povoam a Umbanda.
Mais uma vez reitero, que essa é apenas minha visão, não sou nem quero ser anunciador de uma “verdade”. Apenas uso o crivo do meu bom senso, sempre amparado pelo concordar ou discordar das minhas entidades, para falar de uma religião que amo e pratico a tanto tempo.
Vamos a eles:

1-O surgimento da Umbanda:
Este é um tema sempre polêmico. Corações e mentes se inflamam para defender suas teorias. Sim teorias, por que enquanto não provada definitivamente não passará de teoria.
Eu me baseio sempre por informações possíveis de serem acessadas por qualquer um, por fatos, e claro pelo bom senso.
Dessa forma, que me perdoem alguns irmãos, mas as Umbanda não é atlante nem de outro planeta, tão pouco foi inventada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. A Umbanda é brasileira sim, afro-descendente sim, gostem ou não.
Existem registros históricos (por Hely Chanterlain) da utilização de palavra Umbanda (do kimbundo M'banda) para designar um culto a entidades, derivado do culto bantu aos ancestrais muito anterior ao episódio de 1910. O episódio de 1910 foi importante de muitas maneiras, mas não é o ponto de criação da Umbanda.
O culto aos ancestrais foi se modificando e anexando crenças e ritos locais, e para se legitimar como algo que não magia negra, anexa crenças kardecistas, e assim sucessivamente até tomar o jeitão que ela tem hoje.
Desse modo não existem duas casas rigorosamente iguais, como não existe duas pessoas iguais, nem gêmeos univitelinos (idênticos) são iguais.
A base e a fundamentação do culto é a mesma (à quem mantém a cabeça aberta para olhar, o cerne por mais oculto que esteja, é sempre o mesmo), mas o “como proceder” do culto varia com regionalismo, com as crenças e a formação de quem dirige a casa.
Ao meu ver, é essa a grande beleza da Umbanda, uma grande mãe que a braça a todos os filhos com o mesmo amor e carinho.

2-Entidade não é Orixá, nem tem o poder de Orixá:
Existe um problema semântico gigantesco dentro da Umbanda. A Umbanda por ser afro-descendente acabou por utilizar palavras africanas, num primeiro momento palavras bantas (kimbundo e kicongo – congá, cavalo*, cambono...) e posteriormente palavras yorubás (nomes de Orixás, agô...)
O fato de uma entidade se dizer de Oxóssi, de Ogum, ou de Xangô, não quer dizer que elas sejam representação ou representante do Orixá. Apenas que suas funções e atribuições se assemelham de uma forma ou outra à atribuição ou função do Orixá em questão.
Orixá e entidade pertencem a mundos diferentes, que como água e óleo se tocam apenas num ponto e não se misturam. Orixá não é "ordenança" de Egun (toda e qualquer entidade é Egun), e Egun, jamais será representante de um Orixá.
Erroneamente alguns irmãos, principalmente do Candomblé, pensam que a entidade substitui o Orixá, mas não é isso de forma alguma o que ocorre, a entidade atua de maneira similar, em proporção menor, mas atua ligada aos atributos e energia de um Orixá.
Pensar que apenas Orixá atua de maneira 'x' é um pensamento não muito coerente. Porque se assim fosse, o que seria daqueles que não conhece e cultuam seus Orixás.
* cavalo é corruptela de uma palavra kimbundo que significaria meu menino, ou meu filho.

3-Sobre a roupagem das entidades:
“Sou o que sou, independente da roupa que visto.” Isso toma uma dimensão diferente quando se trata de entidades.
Partindo de um pressuposto que o espírito não tem forma definida, e que ele poderia se mostrar da maneira que melhor o convier, a maneira como uma entidade se apresenta é apenas isso, uma roupa.
Para o desgosto de um irmão kardecista que insistia em dizer que o caboclo com quem trabalho é atrasado e etc., ele se mostrou a ele num determinado momento como um mestre (professor). Era ele , mas com uma ropagem diferente, o jeito de falar diferente, simplesmente porque o receptor é diferente, mas de fato, era ele.
O que eu quero dizer com tudo isso? O que quero dizer é que não é porque uma entidade atua na linha dos caboclos, que ela necessariamente seja um caboclo, ou mesmo um indígena. Em casas mais esclarecidas ele pode até mesmo se apresentar com outra roupagem, embora o gestual e o falar (linguagens importante para o receptor comum, ou seja, o consulente) mantenham-se iguais.
Nem todo preto velho é preto e velho, nem todo caboclo é índio, nem todo baiano (não é bahiano, não é referente ao estado da Bahia) é nordestino.
A entidade vai sempre usar uma roupagem que afenize com a linha que ela atua e principalmente que seja compreensível ao receptor. E isso independende de nacionalidades, raças, culturas.

Este é um começo. Sugiram mais mitos para serem discutidos!

Abraços a todos!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Iyémonjà

Venerada como nenhum outro Orixá na Brasil, Iyémonjà é adorada por todos nós brasileiros. Dia 2 de Fevereiro foi o Dia de Iyémonjà. Na ultima semana, em minha casa, foi feita uma festa em homenagem a  Iyémonjà.

Iyémonjà, Yemanjá, Yemaya, Iemoja "Iemanjá" ou Yemoja, esse nome deriva da expressão Yoruba "Yèyé omo ejà" ("Mãe cujos filhos são peixes"), daí se tem a idéia de que esses "peixes" seriam toda a humanidade, por isso, assim como Òòsàálá, Iyémonjà seria a dona de todas as cabeças. É Iyémonjà quem preside a  formação da individualidade, e por isso deve ser louvada em todos os rituais.

Iyémonjà é o espelho do mundo, que reflete todas as diferenças, pois a mãe é sempre um espelho para o filho, um exemplo de conduta. Ela é a mãe que orienta, que mostra os caminhos, que educa, e sabe, sobre tudo, explorar as potencialidades que estão dentro de cada um, como fez com os guerreiros de Olofin, mostrando o quanto eram bons nos seus ofícios, mas dizendo, ao mesmo tempo, que a guerra maior é a que travamos contra nós mesmos. Iyémonjà é a mãe que não faz distinção dos seus filhos, sejam como forem, tenham ou não saído do seu ventre. Quando humildemente criou, com todo amor e carinho, aquele menino cheio de chagas, fez irromper um grande guerreiro. Iyémonjà criou Ómulù, o filho e senhor, o rei da terra, o próprio Sol.

Na mitologia Yoruba, a dona do mar é Olokun (é dona do mar e das conchas, sendo que Iyémonjà é dona de tudo que é vivo no mar) que é mãe de Iyémonjà, ambas de origem Egbá (refere-se a boa parte dos nativos da cidade de Abeokuta). Iyémonjà, que é saudada como Odò (rio) ìyá (mãe) pelo povo Egbá, por sua ligação com Olokun, Orixá do mar (masculino em Benin ou feminino em Ifé), muitas vezes é referida como sendo a rainha do mar em outros países. Cultuada no rio Ògùn em Abeokuta

"Iyémonjà, é o orixá dos Egbá, uma nação iorubá estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Iyémonjà. Com as guerras entre nações iorubás levaram os Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokuta, no início do século XIX. Não lhes foi possível levar o rio, mas, transportaram consigo os objetos sagrados, suportes do axé da divindade, e o rio Ògùn, que atravessa a região, tornou-se, a partir de então, a nova morada de Iemanjá. Este rio Ògùn não deve, entretanto, ser confundido com Ògún, o orixá do ferro e dos ferreiros." (Verger)

Suas saudações, orikís e cantigas remetem a essa origem, "Ódó Iyà" por exemplo, significa mãe do rio, já a saudação "Érù Iyà" faz alusão às espumas formadas do encontro das águas do rio com as águas do mar, sendo esse um dos locais de culto a Iyémonjà.

Além da grande diversidade de nomes africanos pelos quais Iyémonjà é conhecida, a forma portuguesa Janaína também é utilizada, embora em raras ocasiões. A alcunha, criada durante a escravidão, foi a maneira mais branda de "sincretismo" encontrada pelos negros para a perpetuação de seus cultos tradicionais sem a intervenção de seus senhores, que consideravam inadimissíveis tais "manifestações pagãs" em suas propriedades. Embora tal invocação tenha caído em desuso, várias composições de autoria popular foram realizadas de forma a saudar a "Janaína do Mar" e como canções litúrgicas.

No Brasil, Iyémonjà possui de grande popularidade entre os seguidores de religiões afro-brasileiras, e até por membros de religiões distintas.

Em Salvador, ocorre anualmente, no dia 2 de Fevereiro, a maior festa do país em homenagem à "Rainha do Mar". A celebração envolve milhares de pessoas que, trajadas de branco, saem em procissão até ao templo-mor, localizado próximo à foz do rio Vermelho, onde depositam suas oferendas

Arquétipo:
Em geral os filhos de Iyémonjà, tendem a ser serenos, maternais, sinceros e ajudam a todos sem exceção. Gostam muito de ordem, hierarquia e disciplina, embora laços afetivos possam atenuar esse gosto. São  atrapalhados, ingênuos e calmos até demais, mas quando se enfurecem são como as ondas do mar, que batem sem saber onde vão parar.
Os filhos de Iyémonjà põe à prova suas amizades com certas constância, amizades estas que tratam com um carinho maternal, mas são incapazes de guardar um segredo, por isso não merecem total confiança. Elas costumam exagerar nas suas verdades (para não dizer que mentem) e fazem uso de chantagens emocionais e afetivas. São pessoas que dão grande importância aos seus filhos.
Tendem a ser "cheinhos", as mulheres podem ter o quadril largo e os seios grandes (indicação de serem boas gestantes). São vaidosos mais com os cabelos.
Suas filhas sabem seduzir e encantar com a beleza e mistérios de uma sereia. São boas donas de casa, educadoras pródigas e generosas, criando até os filhos de outros. Não perdoam facilmente, quando ofendidas. São possessivas e muito ciumentas.
Nas grandes famílias há sempre um filho de Iyémonjà, pronto a envolver-se com os problemas de todos, pois gosta tanto disso que pode revelar-se um excelente psicólogo.
São extrovertidos e sabem sempre de tudo (mesmo que não saibam).

Qualidades:
São 16 as qualidades, e por possuírem características tão próprias, há quem chegue a considerar que se trata de orixás individuais (independentes) das outras qualidades.
Iyémonjà Asagba ou Sóbà: É a mais velha, manca de uma perna devido a uma luta com Ésu, rabugenta, e feiticeira, fala de costas, gosta de fiar seu cristal. Comanda as caçadas mais profundas do oceano. Veste branco.
Iyémonjà Akurà: Vive nas espumas do mar, aparece vestida com lodo do mar e coberta de algas marinhas. Muito rica e pouco vaidosa. Adora carneiro.
Iyémonjà Ataramàba: Nessa forma ela está no colo de seu(sua) pai(mãe) Olokun.
Iyémonjà Ataramogba ou Iyáku: Vive na espuma da ressaca da maré.
Iyémonjà Ayió: Muito velha. Veste sete anáguas para se proteger. Vive no mar e descansa nas lagoas.
Iyémonjà Iyà Màsémalé ou Iyàmasé: É a mãe de Sóngó e quem cuidou de Ósumàré. Esposa de Oranian e muito festejada durante as festas consagradas a seu filho Sóngó.
Yemanjá Iyemoyó, Awoyò; Yemuò; Iyà Ori ou Iyèmowó: É uma das mais velha, possui ligação com Òòsàálá, o seu fundamento está no ori, representa a vida, pode curar doenças da cabeça. Veste branco e cristal.
Iyémonjà Kónlà: O seu mito conta que ela afoga os pescadores.
Iyémonjà Màleleó ou Maiyélewó: Esta Iyémonjà vive no meio do oceano no lugar onde se encontram as sete correntes oceânicas.
Iyémonjà Odó: Tem aproximação com Ósun, e vive na água doce sendo muito feminina e vaidosa.
Iyémonjà Ógùntè: Considerada a nova guerreira, dona da espada, esposa de Ógùn Àlàgbedè (o ferreiro) e mãe de Ógùn Akoró e Ósòsi . O seu nome significa aquela que contém Ógùn. Vive perto das praias, no encontro das águas com as pedras. Traz na cintura um facão e todas as ferramentas de Ógùn. Veste branco; azul marinho, cristal, ou verde e branco.
Iyémonjà Olosà, Ólósun ou Bosà: Veste verde-claro e suas contas são branco cristal. É a Iyémonjà mais velha da terra de Egbado.
Iyémonjà Oyó: Benéfica, muito feminina, saudada na cerimónia do Padê, veste de branco, rosa e azul claro.
Iyémonjà Sabá: Fiadeira de algodão, foi esposa de Órúnmilà.
Iyémonjà Sesu, Sesu, Iyàsesu ou Susure: Ligada à gestação. Voluntariosa e respeitável, mensageira de Olokun, o deus(a) do mar. Vive nas águas revoltas do mar. Veste branco, verde água e suas contas branco cristal.
Iyémonjà Yinaé ou Malelè: Aquela que os filhos sempre serão peixes. Também conhecida como Marabó, mora nas águas mais profundas. É a sereia, ligada à reprodução dos peixes; vem sempre a beira do mar apanhar as suas oferendas; está ligada a Òòsàálá e Ésu.

Dia: Sábado.

Data: 2 de fevereiro.

Elementos: Água doces que correm para o mar, água salobra, água do mar.

Domínios: Maternidade (educação), saúde mental e psicológica.

Metal: Prata e prateados.

Cor: Prata transparente, azul claro, verde água e branco.

Número: 6

Odus: Êjibé ou Alafia e Ossá

Comida: Manjar branco, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, ebôya, (fava cozida refogado com cebola, camarão, azeite de dendê ou azeite doce; a mesma oferenda pode ser preparada com o milho branco, todavia recebe o nome de Dibô, possuindo o mesmo valor ritual), ebô (cangica)e vários tipos de furá (bolinhos, ou bola de: arroz, inhame, farinha de mandioca, farinha de milho).

Símbolos: Abebê prateado

Saudação: Érù Iyà ou Odó Iyà.

Érù Iyà Iyàtémì Iyémonjà Sesu

PS: Me desculpem pelo atraso!

sábado, 29 de janeiro de 2011

Seja bem vindo 2011

Tá certo que o ano já começou há quase um mês...

Mas eu estava desfrutando de merecidas férias e da companhia de minha filhota... Está mais que justificada a minha ausência nos redutos internéticos.

Mas vamos lá... Mais um ano começando, que este seja muito bem vindo.

Um ano de “água”, muita água, como já se pode observar. Por todo o mundo a quantidade de chuvas, enchentes e outros desastres causados por água deixa isso bem claro. E estamos apenas nos primeiros 30 dias.


2011 será um ano de Oxum e Yemanjá, um ano regido por duas zelosas e possessivas mães.

Depois de uma sucessão de anos “terra-fogo” chegamos enfim na água, a grande questão é o que morrerá na beira da praia.

Oxum, o Orixá da beleza, da riqueza, da maternidade, aponta para um ano de realizações, de crescimento. Yemanjá, a dona de todas as cabeças, Orixá da família, da fecundidade, da fartura, corrobora o flerte de Oxum com as realizações.

Aqueles que cuidaram de sua terra, e semearam coisas boas, este é o ano do florescimento de todos os projetos e planos, o mesmo vale para aqueles que semearam coisas ruins e alimentaram sua terra com rancor, mágoa, raiva...

Ao contrário do que pensam alguns, não, esse ano não será fácil. Duas mães caprichosas, perfeccionistas e exigentes cobrarão seus filhos, a humanidade. Eu acho que as palavras chaves para esse ano são "amor ao próximo", “honestidade”.

Aqueles que usam o bom-senso como regente de sua vida nada tem a se preocupar. Aqueles que compreendem que todos fazem parte de uma única família, que se permitem estender a mão aos seus irmãos, de certo terão as bençãos de Oxum e Yemanjá.



Ser honesto com o próximo e consigo mesmo é fundamental, para quem pretende crescer esse ano. Oxum não dividirá sua riqueza com aquelas que não são dignos, o mesmo para Yemanjá, só terá "seu peixe" aquele que for honesto e souber dividir.


Este também é um ano para se preocupar com a saúde. É interessante que todos pudessem colocar a checagem das condições de saúde em dia. Em especial as mulheres, as mães sugerem cuidado com o aparelho reprodutor e outros problemas específicos das mulheres.

Este é um ano bom para a maternidade, aqueles que nascerem neste ano terão de certo os maiores e melhores colos do mundo. As mamães também serão bem cuidadas, só devem tomar cuidado com a retenção de líquidos e consequente alta na pressão arterial.

Bom, é isso... Mais um ano de labuta, mas um ano que trará recompensas para aqueles que bem planejaram e bem manejaram o leme da própria vida.

Rorà Yeyé ó fí dé rí Omón Ósun!
Iyemónjà Èérú Ìyá!

Bom 2011 a todos!


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Salve As Folhas

Não se precisa de muito para mostrar o quanto a folha (as ervas, as plantas, as flores) são importantes dentro da liturgia das religiões afro-descendentes.

Compreender Ossanyin, é compreender o poder das ervas. Sem Ossanyin não há ervas, e portanto não há culto. Ossanyin não dever ser esquecido e ignorado, pois sem suas bençãos as ervas não funcionam.

Aqui segue um poema de autoria de Gerônimo e Ildásio Tavares, que já foi declamado, cantado por muitas e muitas vozes.

"Sem folha não tem sonho
Sem folha não tem festa
Sem folha não tem vida
Sem folha não tem nada

Quem é você e o que faz por aqui
Eu guardo a luz das estrelas
A alma de cada folha
Sou Aroni

Cosi euê (Sem folhas)
Cosi orixá (Não há Orixá)
Euê ô
Euê ô orixá

Sem folha não tem sonho
Sem folha não tem festa
Sem folha não tem vida
Sem folha não tem nada

Eu guardo a luz das estrelas
A alma de cada folha
Sou aroni..."

Aroni, segundo alguns mitos, era uma divindade da natureza, possuia apenas uma pernas, e foi ele quem ensinou a Ossanyin os mistérios das folhas; segundo outros mitos, ele era um anão, servidor de Ossanyin, aquele que carregava a cabaça contendo todos os segredos...

A despeito do mito, Aroni e Ossanyin estão sempre ligados.

Asè!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O que é ser filho de Santo?

Filho de Santo - Filho de Orixá - Yawô

Primeiro acho importante destacar que ser Filho de Santo hoje é uma coisa, a 30 anos atrás, outra... Ser filho de Santo no Brasil é uma coisa, na África outra... Não respeitar as diferenças de tempo e espaço, e tudo que isso engloba, como a sociedade, a cultura, a “fisiologia” do lugar em si, a paisagem, é não respeitar as forças que tudo isso representa.

Ser filho de Santo é um processo, em que se morre para o mundano e se nasce para o divino. Como cada um vivenciará esse processo é difícil dizer, mas de certo envolve uma grande jornada de auto-conhecimento e uma profunda mudança no estilo de vida.

A despeito dos mitos metafóricos, eu acredito que o Orixá sempre existiu, Orixá não passa a existir a partir do momento em que o Abian (noviço) é iniciado. O que a iniciação faz é reestabelecer, renovar, o contato que o mundo profanou, religando o iniciado a sua divindade interna, a sua essência divina.

Uma vez ouvi: “Amar Orixá é amar a si mesmo, cultuar Orixá é cultuar o que de mais puro e divino temos em nós.” Acho que isso tem muito fundamento, por que o que de mais íntimo poderia existir que nosso Orixá.

Ser filho de Santo implica em seguir regras impostas por seu Orixá. Essas regras dizem respeito a maneira de cultuá-lo, hábitos que deve abandonar e adotar, o que vestir, o que comer, como agir... Desrespeitar essas regras indica a incapacidade para cultuar seu Orixá, sua essência divina.

Ser filho de Santo demanda zelo para com sua porção divina, e só quem é obtuso o bastante não compreende que este zelo além de para o Orixá é para si mesmo. Todos somos feitos de energia; cuidar, equilibrar, cultuar e expandir essa energia só nos propicia o bem.

Ser filho de Santo implica em descobrir/redescobrir sua essência, compreender e aceitar quem você é realmente, exaltando as qualidade e corrigindo os defeitos. Orixá não é desculpa para seus destemperos, seu mau humor, sua falta de tato ao lidar com as situações, seus maus hábitos.

Ter Orixá assentado não faz de ninguém um ser melhor que os outros. Muitos são os médiuns que esquecem que ser filho de Santo é ser humildade, é ter retidão de caráter, porque compreendendo-se sua essência, você deve passar a compreender a essência daqueles que te cercam. Existem muitas lendas que ilustram isso, Oxalá perdeu o direito de ser o criador do mundo, por conta de sua arrogância e prepotência. Então este comportamento não cabe a nenhum filho de Santo.

Filho de Santo não é um semi-deus, ao contrário do que alguns acreditam.
Acreditam que após terem Orixá assentado, ou melhor (não será pior?), acreditam que se tranformam no próprio Orixá, estando assim acima de tudo e todos.

O culto à Orixá está intimamente ligado a família, a comunidade. Ser filho de Santo demanda saber viver em comunidade. Não existe culto solitário... É incrível como muitos médiuns ignoram essa parte, se achando auto-suficientes após assentaram Orixá.

Ser filho de Santo demanda compromisso, em primeiro lugar consigo mesmo, compromisso de honrar sua força, de buscar conhecimento, de louvar seu Orixá, em segundo lugar com seu Orixá e sua casa de Asè. Esses compromissos são sérios e não devem ser assumidos de maneira leviana. Ter um monte de fios no pescoço e se dizer filho desse ou daquele Orixá é fácil. Ser filho de Santo mesmo, é bem complicado, nem por isso deixa de ser prazeiroso e gratificante.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O que é ser umbandista?

Tenho observado essa nova geração de umbandistas, e sempre me faço as mesmas perguntas: Será que eles realmente sabem o que é ser umbandista? Será que eles se empenham em realmente conhecer um pouco mais a Umbanda? E com isso me refiro a extrapolar os limites do próprio terreiro, a extrapolar o conhecimento do zelador do terreiro. Será que eles tem a mente suficientemente madura para entender que a Umbanda é plural e que determinar o certo e o errado é uma tarefa um tanto complicada?

Vou me ater a minha idéia inicial: o que é ser Umbandista?

O Umbandista não é um herói, não é alguém com super poderes, muito menos é mera ferramenta de espíritos, mero fantoche a mercê da vontade dos espíritos. Tampouco é um “cavalo”.

O Umbandista é membro de uma equipe de trabalho, que trabalha em prol do bem comum. Uma equipe que, se uma das peças comete um erro, todos pagam por ele. Uma equipe, que quanto mais conhecimento acumular, mais ferramentas de trabalho terá. Uma equipe onde cada um que consiga uma conquista, essa é dividida com todos. Uma equipe que atua 24 hora por dia, 7 dias por semana...
E é incrível o número de iniciantes, e mesmo de veteranos adeptos que desconhecem isso!

O curioso sobre a Umbanda é que para se tornar umbandista, não existe um ritual específico, em geral você participa como consulente, e depois de um tempo é convidado a integrar as fileiras da casa, se assim desejar... Passa, ou pelo menos deveria passar, por aulas, para entender os princípios da religião, as normas da casa, com o tempo, passar a desenvolver seu potencial mediúnico.

É durante este desenvolvimento que se passa a ter idéia do compromisso inerente a ser umbandista, um compromisso que não se resume a algumas horas semanais, mas sim a tempo integral. Um compromisso com você mesmo, em primeiro lugar, em buscar o aperfeiçoamento como ser humano, depois com a espiritualidade, de dedicar parte do seu tempo a espiritualidade e ao próximo, aos seus irmãos (carnais ou não), à casa (centro, terreiro, templo), aos seus filhos e principalmente aos filhos (consulentes, clientes) das suas entidades.

Ser umbandista é agir com bom senso perante a vida, não faça aos outros o que não deseja para si. É se “des-envolver” de alguns valores e se envolver com outros, é ser mais humilde, menos egoísta, é se amar.
É se desprender por um momento dos seus problemas para poder auxiliar o próximo a resolver os dele, é praticar a caridade, é ser correto sem esperar nada em troca.

Enfim, o umbandista é uma pessoa “normal”, que vive (deveria viver, pelo menos) de maneira sensata, fazendo o bem, sem olhar a quem...

Aos apressados, incorporação é apenas uma parte, e bem pequena, do que é ser umbandista. O umbandista, não precisa necessariamente incorporar, mas por em prática o que aprende com seu povo espiritual, e/ou com o povo espiritual dos seus irmãos de fé.

Ser umbandista é fácil no terreiro, naquelas 3 ou 4 horas semanais... O difícil é ser no dia-a-dia, na lida com os parentes, com os vizinhos, no trabalho, na escola... Enfim, na lida com a vida, onde é mais importante que se consiga ser umbandista!

Agradeço a Patrícia, minha grande amiga e irmã de santo, pela ajuda na confecção deste pequeno texto!

sábado, 3 de abril de 2010

Surgimento da Umbanda.


Uma das versões para a fundação da Umbanda trata da suposta fundação da Umbanda pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, manifestado no médium Zélio Fernandino de Morais em condições peculiares, no ano de 1908 no estado do Rio de Janeiro.
Sem desmerecer o evento, que tem alto valor significativo, mesmo para aqueles que não concordam com a versão, e que de certo serviu ao propósito de divulgar a Umbanda ao público geral, existe outra versão mais coerente em relação à formação cultural-religiosa brasileira, e passível de verificação histórica.
Esta versão trata da evolução cultural e histórica das primeiras “Macumbas” do Brasil, oriundas de diversos pontos do norte/nordeste brasileiro, em especial do estado do Maranhão.
Em 1763 foram registrados os primeiros cultos, que começaram a se difundir com a designação de Macumba. Experimentaram certo período de resplendor que se apagou no inicio do século XIX.
A adesão de novos brasileiros fortaleceu a absorção de elementos nacionais, desenvolvendo-se, assim, práticas espiritistas e ocultistas ao lado de novas divindades caboclas e negras. O processo sincrético que deu origem a Umbanda desenvolveu-se em etapas históricas:
·  Primeira: Africana ou básica: resultado da sedimentação de contribuições africanas, formando os cultos básicos das nações (Candomblé) e os cultos a Egungun. Forte presença da cultura e do pensamento africano, com muitos dogmas, rituais intricados e secretos, culto intimamente ligado a Orixá (Vodun, I’nkisse).
·  Segunda: Indígena: os negros que se embrenhavam nas matas, principalmente os de origem banta entram em contatos com o índio brasileiro e seus costumes, identificam-se com o que havia de semelhante nos cultos dos indígenas. Como a religiosidade do africano está intimamente ligada à terra (à paisagem em si) acaba agregando algumas práticas, também ligadas à terra, ao seu culto (afinal, agora o negro estava pisando em outro chão).
·  Terceira: Européia e Católica: os negros e índios, incapazes de assimilar a religião católica que lhes era imposta pelos padres, fizeram-no imperfeita ou parcialmente no que havia de correspondência com suas divindades tradicionais, surgindo assim o sincretismo que impera até hoje. Também a influência semita é de grande importância, pois é a partir deste ponto que se cria uma “escrita” (simbologia) própria do culto novo a partir da Kaballah.
·  Quarta: Espiritista: após a libertação dos escravos vemos a integração do seu culto ao culto espiritista que se difundia entre as elites brasileiras desde 1873. Dai começa então a se formar um novo culto, que começa a se distanciar dos rígidos dogmas do culto original africano, distanciando-se dos candomblés da Bahia, até que por fim, rompe com o culto aos Orixás, focando-se no culto a Egun.
A nova religião que se derivou de todo este processo obteve várias denominações, entre elas a de Umbanda.
Em Angola, dava-se o nome de M’banda ao sacerdote, ao curandeiro, nome usado ainda nos tempos de hoje em Angola e em Portugal para designar os benzedeiros (M’banda é literalmente “aquele que ajuda”).
Desta forma, em princípio, Umbanda queria dizer “sacerdote”; depois, por extensão, passou a designar "local de culto", e, finalmente, para nós, brasileiros, a religião.
Já em 1894, através da palavra de Hely Chanterlain encontramos o registro do termo com o seu significado e derivação.
A princípio os primeiros cultos se localizavam principalmente no Maranhão, e depois em alguns pontos do Sudeste e Sul do Brasil, destacando-se nos estados de Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
Existe uma diferença básica entre a Umbanda e as antigas Macumbas, e ambas sobrevivem lado a lado.
As confrarias, chamadas a principio de macumbas, compreendiam a linguagem mágica dos tambores e a possessão da divindade de acordo com o modelo original, as sucessoras, ou aquelas que se adaptaram as novas exigências policiais, passaram a chamar-se Umbanda, suprimindo os tambores e moderando a possessão.
Eram características dessa Umbanda recém nascida:
·  O ritual, simples e direto: o médium adota a roupagem numa igualdade de condições com o ambiente;
·  Comunicação simples e direta: o crente fala diretamente com a entidade, através de seu médium; sem maiores problemas e com muita simplicidade, o crente trata dos seus assuntos de forma espontânea e clara, numa linguagem de fácil compreensão;
·  O imediatismo: a possibilidade de resolver seus problemas em curto prazo;
·  O sincretismo religioso: o que contribui positivamente para que seja cada vez maior o número de adeptos aos cultos umbandistas. Através dos caboclos, pretos-velhos e exus, observa-se uma integração das religiões, cujos resultados poderão ser benéficos para os que buscam a Umbanda como um acordo extensivo da religião católica, que ainda respeitam e acreditam, mas que dela se distanciam cada vez mais;
·  A música, extremamente simples e de poesia singela, atinge diretamente o sentimento do povo. Os instrumentos são de percussão e o ritmo vibrante marca todo o culto;
·  A facilidade de se entrar em contato com a religião, para se fazer à cerimônia religiosa.

domingo, 28 de março de 2010

Influências externas na formação da cultura religiosa brasleira.

Existe atualmente no Brasil um conjunto de religiões aqui nascidas e desenvolvidas, criadas a partir de 1550 pela combinação das crenças e dos costumes dos vários povos ameríndios, africanos e europeus que participaram da formação da cultura brasileira.
Entre os ameríndios, o grupo mais importante foi o Tupi, que antes da chegada dos europeus se espalhava desde o sul da Amazônia até o Rio da Prata. Sua cultura era neolítica, baseada na agricultura de subsistência, na caça e na pesca; os povos se organizavam em aldeias constituídas por famílias extensas (várias gerações reunidas numa grande casa), sem uma divisão hierárquica marcada. A grande divisão social era determinada pela diferença entre o trabalho dos homens (as tarefas pesadas, mas temporárias ligadas à caça e à pesca e ao preparo de terrenos para cultivo) e das mulheres (a carga imensa de todas as tarefas cotidianas do cuidado da casa, da agricultura e do artesanato).
Devido ao nível dos recursos tecnológicos de que dispunham, eram muito dependentes das condições climáticas e das variações na ocorrência natural de produtos animais e vegetais que coletavam; por isso, eram muito cuidadosos ao explorar a natureza. Refletindo esses traços culturais, a religião dos povos Tupis apresentava dois traços principais. Em sua relação com a natureza selvagem, consideravam que todos os seres, objetos e fenômenos naturais tinham “mães”, gênios criadores femininos que poderiam ser personalizados num animal ou num astro; e outros espíritos da natureza agiam como guardiões, ajudando as pessoas a suprirem suas necessidades e punindo os que matavam sem razão. Já a ordem social humana era regida por divindades criadoras e heróis civilizadores masculinos, expressões da ascensão do poder patriarcal.
Ritos de iniciação, práticas de magia e cura xamânica, festivais estacionais agrícolas, ritos fúnebres baseados na crença numa vida do espírito em outro mundo, busca da proteção dos bons espíritos e afastamento dos espíritos maus são os traços básicos dessa religião. 
Sendo os habitantes do litoral brasileiro, foram os Tupis que tiveram maior contato com os europeus nos primeiros séculos da exploração da região, deixando marcas profundas de sua cultura. O Tupi foi a “língua geral” falada em muitas regiões do país nos primeiros séculos da colonização, sendo substituído muito lentamente pelo português, que absorveu muitos termos da língua indígena. Ao mesmo tempo, as crenças populares nos espíritos protetores, vários ritos e costumes tradicionais se misturaram com as crenças européias. Atualmente, a Amazônia é a região que conserva traços mais fortes da cultura ameríndia, embora existam vestígios dela em todas as regiões do país, mais ou menos misturadas às outras religiões.
Entre os povos africanos trazidos para o Brasil como escravos entre os séculos XVI e XIX, os mais importantes para a formação da cultura nacional foram os Yorubás, os Nagôs e os Bantus, oriundos, respectivamente, das bacias dos Rios Niger (atual Nigéria) e do atual Congo e Angola. Esses povos possuíam uma estrutura social e econômica muito complexa e avançada. Organizados em Reinos que ocupavam vastas áreas divididas em províncias, distritos e aldeias, tinham uma estrutura sofisticada de comunicações, manufatura (inclusive metalurgia), comércio (inclusive com povos de regiões distantes), finanças, governo e força militar. Um traço característico desses povos era a organização de tendência matriarcal das aldeias, que se refletia em sua religião. Muito organizada, rica e complexa, a religião desses povos contava com dois tipos de hierarquia sacerdotal: as mulheres eram responsáveis pelo contato direto com as divindades, através do êxtase ritual e dos cuidados do templo; os homens cuidavam da adivinhação e da cura.
Os ritos fúnebres do culto dos ancestrais eram separados dos do culto das divindades, que são forças da natureza ou heróis divinizados. Entre os Yorubás, era dada grande importância ao culto dos Orixás; uma característica dessa religião é a jovialidade das divindades, que geralmente se mantinham bem distantes dos mortos.
Já os Voduns do Daomé, alguns dos quais chegaram ao Brasil trazidos diretamente pelos Jêjes ou através da religião Yorubá, eram divindades austeras e temíveis, muito ligados a terra e à morte.
Os Inkices, divindades dos Bantus foram assimilados pelos Orixás que a eles se pareciam. Trazidos para o Brasil desde o início da colonização os Bantus espalharam por um vasto território, tendo grande contato com os portugueses e índios, sua religião foi pouco a pouco se misturando ao xamanismo indígena e às crenças religiosas e mágicas européias. Por isso, enquanto a religião Yorubá foi renascendo e se reorganizando na Bahia, onde esse povo ficou mais concentrado, a religião Bantu foi amalgamada com inúmeros outros elementos, desde os rituais Caboclos até o espiritismo abraçado pelas classes médias urbanas no final do século XIX, resultando numa religião totalmente nova. Nas regiões Norte e Nordeste, as crenças africanas foram fortemente influenciadas pelas tradições ameríndias e européias, originando várias tradições religiosas e mágicas típicas dessa área do país.
Entre os povos europeus, o mais importante para a formação religiosa brasileira foi o português. Este povo trouxe a tradição cristã, mas, ao contrário do francês, inglês e holandês, mais simpático a uma religião protestante fundamentalista (rigidamente presa aos textos originais do Cristianismo), a religião dos povos Ibéricos e Itálicos (Portugal, Espanha e Itália) evoluiu durante a Idade Média para um Catolicismo popular que deixou traços fortes nas religiões brasileiras.
Em sua forma original, o Cristianismo era uma religião messiânica e patriarcal, com todas as suas crenças e ritos concentrados na figura de um Deus masculino único, manifestado na terra como um filho salvador da humanidade. Entretanto, ao se expandir para regiões habitadas por populações milenarmente enraizadas e ligadas ao culto da Mãe-Terra e das forças da natureza, o Cristianismo foi-se enriquecendo pela incorporação dessas crenças. Dessa forma, o culto da Virgem Maria, que é a forma cristã da Grande Mãe do Mundo, cresceu a ponto de, em algumas regiões, se tornar mais importante do que o próprio culto de Cristo; e as grandes figuras da religião – os mártires dos tempos de perseguição – foram canonizados, transformados em Santos, assumindo um caráter muito semelhante a das antigas divindades locais e espíritos protetores.
Ao absorverem os elementos da religião européia imposta pelos colonizadores, os negros e Caboclos do Brasil aproveitaram essa face mais benévola, flexível e abrangente, aproveitando as figuras de Cristo, da Virgem e dos Santos para compor uma religião popular complexa e rica. Mais recentemente, através do espiritismo, foram incorporados elementos da Kaballah, da magia européia e da Alquimia.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O que é a Umbanda?

Vejamos o que nos diz o Aurélio:


Verbete: umbanda [Do kimb. m’banda, 'magia'.] S.m. 1. Bras. Forma cultual originada da assimilação de elementos religiosos afro-brasileiros pelo espiritismo brasileiro urbano; magia branca. 2. Bras., RJ. Folcl. Grão-sacerdote que invoca os espíritos e dirige as cerimônias de macumba. [Var.: embanda.]

A UMBANDA é uma religião!

Se dentro da Umbanda conseguimos nos religar com Deus, conseguimos tirar o véu que cobre nossa ignorância da presença de Deus em nosso íntimo, então podemos chamar nossa fé de Religião.
Como mais uma das formas de sentir Deus em nossa vida, a Umbanda cumpre a função religiosa de nos levar à reflexão sobre nossos atos, sobre a urgência de reformularmos nosso comportamento aproximando-o da prática do amor de Deus.
A Umbanda é uma religião lindíssima, e de grande fundamento, ela se baseia no culto aos Orixás e seus servidores, os espíritos. Estes espíritos estão "organizados" na Umbanda em linhas (grupos): Caboclos, Preto-velhos, Crianças e Exus. Cada uma delas com funções, características e formas de trabalhar bem específicas, todas utilizando as forças da natureza que nos regem, os Orixás, e estes por sua vez, são manifestações do Criador.
Na verdade a Umbanda é bela exatamente pelo fato de ser mista como os brasileiros, por isso é uma religião totalmente brasileira.
Criada no Brasil a partir da união de diversas culturas e cultos: o negro trouxe o africanismo (nações); os índios trouxeram os elementos da Pajelança; os europeus trouxeram o Cristianismo e o Kardecismo; e, posteriormente, os povos orientais acrescentaram um pouco de sua ritualística à Umbanda. Não se pode esquecer também a grande contribuição judaica à Umbanda: a Kaballah.
Os seguidores da Umbanda só praticam rituais voltados para melhorar a vida de determinada pessoa, para praticar um bem e a caridade. Os espíritos da Quimbanda (Exus) podem, e devem ser invocados para a prática do bem, contanto que isso seja feito sem que se tenha que dar presentes ou dinheiro ao médium que os recebe, pois o objetivo do médium deve ser tão somente a prática da caridade.
Algumas casas de Umbanda cultuam e homenageiam Orixás do panteão africano, mas estes devem ser cultuados a parte do culto a Egun (espíritos).
Nós temos os nossos guias de trabalho e entre eles existe aquele que é o responsável pela nossa vida espiritual e por isso é chamado de guia chefe, os demais “trabalhariam” juntos deste para cobrir muitos aspectos da vida espiritual e material do médium.
Geralmente este guia é um Caboclo ou uma Cabocla, mas há casas onde pode ser um Preto-Velho ou mesmo outra entidade. Esta entidade é a responsável pelo seu caminhar dentro da Umbanda.

Aspectos Dominantes do Movimento Umbandista:
1.      Ritual, variando pela origem;
2.      Uso de vestes, em geral brancas;
3.      Uso ou não do altar com imagens católicas, Pretos-Velhos, Caboclos;
4.      Sessões espíritas, formando agrupamentos em pé, em salões ou terreiro;
5.      Desenvolvimento normal em corrente;
6.      Bases; africanismo, pajelança, kardecismo, judaísmo, catolicismo;
7.      Serviço social constante nos terreiros;
8.      Finalidade de cura material e espiritual;
9.      Magia branca;
10.    Batiza, consagra e casa.

Características Gerais do Ritual:

A Umbanda não tem um órgão centralizador, e muito possivelmente jamais haverá um, que a nível nacional ou estadual, dite normas e conceitos gerais sobre a religião ou possa coibir os constantes abusos cometidos por parte daqueles que não tem preparo para liderar uma casa.
Por isso cada terreiro segue um ritual próprio, ditado pelo guia chefe do terreiro, o que faz com que exista uma diferenciação, ora pequena, ora enorme, de rituais entre uma casa e outra.
Entretanto a base de todo terreiro tem que seguir o princípio básico do bom senso, da honestidade e do desinteresse material, além de pregar, é claro, o ritual básico transmitido através dos anos pelos praticantes.
O mais importante seria que todos pudessem encontrar em seus cultos os elos básicos que unem todos os umbandistas, e seriam estes elos, mais importantes do que as diferenças. Tais elos são o Amor e a Caridade! Não importa se o atabaque toca, ou se o ritmo é de palmas, nem mesmo se não há som. O que importa é a honestidade e o amor com que nos entregamos a nossa religião.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Pequenas e sinceras verdades...

O encanto dos Orixás
por Leonardo Boff - Teólogo, filósofo e escritor




Quando atinge grau elevado de complexidade, toda cultura encontra sua expressão artística, literária e espiritual. Mas ao criar uma religião a partir de uma experiência profunda do Mistério do mundo, ela alcança sua maturidade e aponta para valores universais. É o que representa a Umbanda, religião que bebe das matrizes da mais genuína brasilidade, feita de europeus, de africanos e de indígenas. Num contexto de desamparo social, com milhares de pessoas desenraizadas, vindas da selva e dos grotões do Brasil profundo, desempregadas, doentes pela insalubridade notória do Rio nos inícios do século XX, irrompeu uma fortíssima experiência espiritual.

Essa revelação tem como destinatários primordiais os humildes e destituídos de todo apoio material e espiritual. Ela quer reforçar neles a percepção da profunda igualdade entre todos, homens e mulheres, se propõe potenciar a caridade e o amor fraterno, mitigar as injustiças, consolar os aflitos e reintegrar o ser humano na natureza.


A Umbanda sincretiza de forma criativa elementos das várias tradições religiosas de nosso país criando um sistema coerente. Privilegia as tradições do Candomblé da Bahia por serem as mais populares e próximas aos seres humanos em suas necessidades. Mas não as considera como entidades, apenas como forças ou espíritos puros que através dos Guias espirituais se acercam das pessoas para ajudá-las. Os Orixás, a Mata Virgem, o Rompe Mato, o Sete Flechas, a Cachoeira, a Jurema e os Caboclos representam facetas arquetípicas da Divindade. Elas não multiplicam Deus num falso panteísmo, mas concretizam, sob os mais diversos nomes, o único e mesmo Deus. Este se sacramentaliza nos elementos da natureza como nas montanhas, nas cachoeiras, nas matas, no mar, no fogo e nas tempestades. Ao confrontar-se com estas realidades, o fiel entra em comunhão com Deus.


A Umbanda é uma religião profundamente ecológica. Devolve ao ser humano o sentido da reverência face às energias cósmicas. Renuncia aos sacrifícios de animais para restringir-se somente às flores e à luz, realidades sutis e espirituais.

Há um diplomata brasileiro, Flávio Perri, que serviu em embaixadas importantes como Paris, Roma, Genebra e Nova York que se deixou encantar pela religião da Umbanda. Com recursos das ciências comparadas das religiões e dos vários métodos hermenêuticos elaborou perspicazes reflexões que levam exatamente este título O Encanto dos Orixás, desvendando-nos a riqueza espiritual da Umbanda. Permeia seu trabalho com poemas próprios de fina percepção espiritual. Ele se inscreve no gênero dos poetas-pensadores e místicos como Álvaro Campos (Fernando Pessoa), Murilo Mendes, T. S. Elliot e o sufi Rumi. Mesmo sob o encanto, seu estilo é contido, sem qualquer exaltação, pois é esse rigor que a natureza do espiritual exige.

Além disso, ajuda a desmontar preconceitos que cercam a Umbanda, por causa de suas origens nos pobres da cultura popular, espontaneamente sincréticos. Que eles tenham produzido significativa espiritualidade e criado uma religião cujos meios de expressão são puros e singelos revela quão profunda e rica é a cultura desses humilhados e ofendidos, nossos irmãos e irmãs. Como se dizia nos primórdios do Cristianismo que, em sua origem também era uma religião de escravos e de marginalizados, "os pobres são nossos mestres, os humildes, nossos doutores".

Talvez algum leitor/a estranhe que um teólogo como eu diga tudo isso que escrevi. Apenas respondo: um teólogo que não consegue ver Deus para além dos limites de sua religião ou igreja não é um bom teólogo. É antes um erudito de doutrinas. Perde a ocasião de se encontrar com Deus que se comunica por outros caminhos e que fala por diferentes mensageiros, seus verdadeiros anjos. Deus desborda de nossas cabeças e dogmas.

[Leonardo Boff é autor de Meditação da Luz. O caminho da simplicidade. Vozes 2009]

quinta-feira, 11 de março de 2010

Apresentação

Eu nasci numa quinta feira, 7 de maio e 49 dias depois eu era batizado no Templo Guaracy do Brasil, pelo próprio caboclo Guaracy.

Não posso dizer que sou umbandista desde que nasci, pois de certo estaria mentindo. Mas convivi neste meio por toda minha infância, pois boa parte da minha família é de umbandistas.

Tive contato e conheci diversas religiões, e tive a liberdade para escolher aquela que mais me agradasse.  Nunca dei muita importância para isso, não deixava que o fator religião atrapalhasse minhas amizades, com judeus, muçulmanos, católicos, evangélicos... Enfim, fui uma criança como outra qualquer até meus 14 anos...

Era abril, mês consagrado ao Orixá Ogun no terreiro da minha tia, a Casa Mãe Guacyara. Fui à festa de Ogun, me apaixonei imediatamente pelo toque, me consultei com um caboclo que me indicaram: Sr. Cobra Coral... Eram exatamente as palavras que ele me disse que eu precisava para que meu medo e ceticismo viessem ao chão. No sábado seguinte eu estava lá no meio do pessoal para ouvir as aulas que minha tia dava aos seus médiuns em desenvolvimento. Algumas semanas depois fui convidado pela cabocla Mãe Guacyara a integrar a corrente de desenvolvimento.
Daí em diante foram seis meses em desenvolvimento, dois anos como cambono... Ah! Nesse meio tempo eu já tinha aprendido a tocar e já tocava nas giras de desenvolvimento e de atendimento com certa frequência.

Um tempo depois minha mãe recebeu ordem para abrir seu terreiro e assim o fez, e eu a acompanhei, foi mais um ano como ogã, até meu buri (de burilar, lapidar) e quando percebi, aos 20 estava fazendo minha feitura, e hoje estou perto de completar 15 anos vivenciando e aprendendo a Umbanda.

Nos últimos oito ou nove anos, venho com afinco estudando diversos aspectos da Umbanda: de onde surgiu, como se desenvolveu, quando se aproximou do culto à Orixá e o culto em si, qual o direcionamento que vem tomando nestes últimos anos, como ela lida com seus fiéis... Enfim, curioso por natureza como sou, procurei conhecer tudo que estava ao meu alcance sobre a religião que eu havia escolhido lá no pé de pai Cobra Coral.

Longe de mim querer usar este espaço para divulgar uma “verdade” sobre a Umbanda. Este espaço é para expor como eu a vejo, de um posicionamento bem pessoal mesmo. Eu não julgo o que é certo ou errado, até porque, quem conseguiria definir o que é certo e o que é errado na Umbanda, que não tem códigos, apenas tradições orais, transmitidas assim, por nossos pais ou mães de santo e pelas próprias entidades.

Convido-os a também participar deste espaço, para que levantem questões e debates, e assim poderei expor a minha visão da Umbanda. Essa é minha idéia com relação a este espaço e é assim que pretendo usá-lo. 

Prazer em conhecê-los e até a próxima!

“Na Umbanda, sou apenas mais um aprendiz, e assim deixarei a existência terrena...”

Agradeço a todos os Caboclos e seus respectivos médiuns por toda ajuda e amor dispensados à minha pessoa.

Kâo meu pai Cobra Coral.
Axé minha mãe Guacyara
Axé minha mãe Estrela do Mar
Axé meu pai, meu companheiro, meu guia, meu irmão, Axé Pai Itacayá.